Proteínas do soro do leite/Whey protein:
Nas
últimas décadas, numerosas pesquisas vêm demonstrando as qualidades
nutricionais das proteínas solúveis do soro do leite, também conhecidas como whey
protein. As proteínas do soro são extraídas da porção aquosa do leite, gerada
durante o processo de fabricação do queijo.
Atletas,
praticantes de atividades físicas, pessoas fisicamente ativas e até mesmo
portadores de doenças, vêm procurando benefícios nessa fonte protéica.
Evidências
recentes sustentam a teoria de que as proteínas do leite, incluindo as
proteínas do soro, além de seu alto valor biológico, possuem peptídeos
bioativos, que atuam como agentes antimicrobianos, anti-hipertensivos,
reguladores da função imune, assim como fatores de crescimento.
As
frações, ou peptídeos do soro, são constituídas de: beta-lactoglobulina (BLG),
alfa-lactoalbumina (ALA), albumina do soro bovino (BSA), imunoglobulinas (Ig‘s)
e glicomacropeptídeos (GMP). Essas frações podem variar em tamanho, peso
molecular e função, fornecendo às proteínas do soro características especiais.
Presentes em todos os tipos de leite, a proteína do leite bovino contém cerca
de 80% de caseína e 20% de proteínas do soro, percentual que pode variar em
função da raça do gado, da ração fornecida e do país de origem. No leite
humano, o percentual das proteínas do soro é modificado ao longo da lactação,
sendo que no colostro representam cerca de 80% e, na seqüência, esse percentual
diminui para 50%.
A
BLG é o maior peptídeo do soro (45,0%-57,0%), representando, no leite bovino,
cerca de 3,2g/l, o que lhe confere resistência à ação de ácidos e enzimas
proteolíticas presentes no estômago, sendo, portanto, absorvida no intestino
delgado. É o peptídeo que apresenta maior teor de aminoácidos de cadeia
ramificada (BCAA), com cerca de 25,1%. Importante carreadora de retinol (pró
vitamina A) materno para o filhote, em animais; em humanos essa função
biológica é desprezada, uma vez que a BLG não está presente no leite humano.
Em
termos quantitativos, a ALA é o segundo peptídeo do soro (15%-25%) do leite
bovino e o principal do leite humano e caracteriza-se por ser de fácil e rápida
digestão. Contém o maior teor de triptofano (6%) entre todas as fontes
protéicas alimentares, sendo, também, rica em lisina, leucina, treonina e
cistina.
A
ALA possui a capacidade de se ligar a certos minerais, como cálcio e zinco, o
que pode afetar positivamente sua absorção. Além disso, a fração ALA apresenta
atividade antimicrobiana contra bactérias patogênicas.
A
BSA corresponde a cerca de 10% das proteínas do soro do leite. É rico em
cistina (aproximadamente 6%), e relevante precursor da síntese de glutationa.
Possui afinidade por ácidos graxos livres e outros lipídeos, favorecendo seu
transporte na corrente sanguínea.
As
Ig’s são proteínas de alto peso molecular (150 -1.000kDa).
Quatro das cinco classes das Ig’s estão presentes no leite bovino (IgG, IgA,
IgM e IgE), sendo a IgG a principal, constituindo cerca de 80% do total. No
leite humano, a IgA constitui a principal imunoglobulina (>90%). Suas
principais ações biológicas residem na imunidade passiva e atividade
antioxidante.
O
GMP (6,7kDa) é um peptídeo resistente ao calor, à digestão assim como a
mudanças de pH. Curiosamente, muitos autores não descrevem o GMP como um
peptídeo do soro. Na verdade, o GMP é um peptídeo derivado da digestão da caseína-kapa,
pela ação da quimosina durante a coagulação do queijo. Essa fração está
presente em um tipo de proteína do soro, conhecida como whey rennet.
Apresenta alta carga negativa, que favorece a absorção de minerais pelo
epitélio intestinal, e, assim como a fração BLG, possui alto teor de
aminoácidos essenciais (47%).
As
sub-frações ou peptídeos secundários das proteínas do soro são assim
denominadas por se apresentarem em pequenas concentrações no leite. Compreendem
as sub-frações: lactoferrina, beta-microglobulinas, gama-globulinas,
lactoperoxidase, lisozima, lactolina, relaxina, lactofano, fatores de
crescimento IGF-1 e IGF-2, proteoses-peptonas e aminoácidos livres. As
subfrações lactoferrina, lisozima, lactoperoxidase, encontradas no leite
humano, fornecem propriedades antimicrobianas importantes
para o recém-nascido, assim como os fatores de crescimento IGF-I e IGF-II, que estão
relacionados com o desenvolvimento do tubo digestivo.
Segundo
Salzano Jr, 100g de concentrado protéico do soro do leite possui, em média,
414kcal, 80g de proteína, 7g de gordura e 8g de carboidratos. Os BCAA perfazem
21,2% e todos os aminoácidos essenciais constituem 42,7%.
Segundo o autor, esses valores estão acima da média, quando comparados
àqueles de outras fontes protéicas, fornecendo às proteínas do soro importantes
propriedades nutricionais. Em relação aos micronutrientes, possui, em
média, 1,2mg de ferro, 170mg de sódio e 600mg de cálcio por 100g de concentrado
protéico.
Pessoas
fisicamente ativas e atletas necessitam de maior quantidade protéica que as
estabelecidas para indivíduos sedentários. Segundo Lemon, pessoas envolvidas em
treinos de resistência necessitam de 1,2 a 1,4g de proteína por quilograma de
peso ao dia, enquanto que atletas de força, 1,6 a 1,7g.1 por kg de peso/dia,
bem superior aos 0,8-1,0g por kg de peso/dia dia, estabelecidos para indivíduos
sedentários.
A
quantidade e o tipo de proteína ou de aminoácido, fornecidos após o exercício, influenciam a síntese protéica. Estudos têm mostrado que somente os aminoácidos
essenciais, especialmente a leucina, são necessários para estimular a síntese
protéica.
Van
Loon et al. demonstraram que a ingestão de uma solução contendo proteínas do
soro e carboidratos aumentou significantemente as concentrações plasmáticas de
7 aminoácidos essenciais, incluindo os BCAA, em comparação à caseína. Anthony
et al. sugerem que a leucina participe no processo de iniciação da ativação da síntese
protéica.
O perfil de aminoácidos das proteínas do soro, principalmente
ricas em leucina, pode, desta forma, favorecer o anabolismo muscular. Além disso,
Ha & Zamel destacam que o perfil de aminoácidos das proteínas do soro é
muito similar ao das proteínas do músculo esquelético, fornecendo quase todos
os aminoácidos em proporção similar às do mesmo, classificando-as como um efetivo
suplemento anabólico.
Estudos
demonstram que as proteínas do soro são absorvidas mais rapidamente que outras,
como a caseína, por exemplo. Essa rápida absorção faz com que as concentrações
plasmáticas de muitos minoácidos, inclusive a leucina, atinjam altos valores
logo após a sua ingestão.
Além
de aumentar as concentrações plasmáticas de aminoácidos, a ingestão de soluções
contendo as proteínas do soro aumenta, significativamente, a concentração de
insulina plasmática, o que favorece a captação de aminoácidos para o interior da
célula muscular, otimizando a síntese e reduzindo o catabolismo protéico.
O
aumento na concentração de BCAA, induzido pelas proteínas do soro, pode atuar
também inibindo a degradação protéica muscular.
Vários
trabalhos têm mostrado que as proteínas do soro favorecem o processo de redução
da gordura corporal, por meio de mecanismos associados ao cálcio, e por
apresentar altas concentrações de BCAA.
As proteínas do soro são ricas
em cálcio (aproximadamente 600mg/100g). Uma provável explicação seria que o aumento no cálcio dietético reduz
as concentrações dos hormônios calcitrópicos, principalmente o 1,25 hidroxicolecalciferol
(1,25(OH)2D). Em altas concentrações,
esse hormônio estimula a transferência de cálcio para os adipócitos. Nos adipócitos,
altas concentrações de cálcio levam à lipogênese (síntese de novo) e à
redução da lipólise. Portanto, a
supressão dos hormônios calcitrópicos mediada pelo cálcio dietético, pode
ajudar a diminuir a deposição de gordura nos tecidos adiposos. As
proteínas do soro poderiam oferecer uma vantagem sobre o leite como fonte de
cálcio, em pessoas intolerantes à lactose, uma vez que grande parte dos
suplementos à base de proteínas do soro é praticamente isenta de lactose, e
pelo fato de essa proteína apresentar percentual de gordura menor que 2%. Pesquisas
têm reavaliado a contribuição dos BCAA para a homeostase glicêmica, pois esses aminoácidos
são degradados nos tecidos musculares em proporção relativa à sua ingestão.
Essa
degradação aumenta as concentrações plasmáticas dos aminoácidos alanina e
glutamina, que são transportadas para o fígado para a produção de glicose
(gliconeogênese). Por elevar as concentrações plasmáticas de BCAA, a utilização
de proteínas do soro nesses tipos de dietas seria vantajosa por reduzir a
liberação de insulina pós-prandial e maximizar a ação do fígado no controle da
glicemia, a partir da gliconeogênese hepática. Além disso, pelo fato de a
leucina atuar nos processos de síntese protéica, altas concentrações desse
aminoácido favorecem a manutenção da massa muscular durante a perda de peso. Em
síntese, as proteínas do soro interferem positivamente na redução de gordura em
função de seu alto teor de cálcio - e, conseqüentemente, pela atuação deste
sobre o hormônio 1,25(OH)2D - e por agirem sobre os hormônios CCK e GLP-1. Sua
utilização em dietas para perda de peso auxilia o
controle da glicemia e a preservação da massa muscular devido às altas
concentrações de BCAA.
FONTE: HARAGUCHI,
Fabiano Kenji; ABREU, Wilson César de; DE PAULA, Heberth. Proteínas do soro do
leite: composição, propriedades nutricionais, aplicações no esporte e
benefícios para a saúde humana. Rev. Nutr., Campinas, 19(4):479-488, jul/ago., 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário!